por Hewerton Ferreira
O Ódio Não Merece Lucro (em tradução livre), é com essa afirmação que a campanha STOP HATE FOR PROFIT, encabeçada por diversas instituições americanas que lutam por igualdade racial, busca agregar cada vez mais empresas para que parem de investir seu dinheiro de comunicação nas plataformas do Facebook.
A campanha de boicote que teve início no mês de Junho já conta até hoje (10/07) com mais de 397 marcas participantes (e crescendo). Entre as marcas participantes estão as multinacionais Adidas, Ben & Jerry’s, Boeing, Coca Cola, Colgate-Palmolive, Diageo, Honda, Levi’s, Pfizer, Playstation, Puma, Reebok, SAP, Unilever e muitas outras. Algumas dessas marcas suspenderam os anúncios apenas durante o mês de julho, outras até o final do ano, e outras indeterminadamente até que a plataforma realize mudanças reais em sua política de uso.
O movimento afirma que o Facebook passa longe no quesito de curadoria e remoção de conteúdos de ódio e/ou racistas da plataforma, e convoca para que as empresas retirem todo o investimento na plataforma no mês de julho como forma de provocar o Facebook a tomar alguma atitude.
No início de junho foi possível perceber claramente como os ataques racistas e de ódio acontecem dentro da plataforma. Diversos usuários atacaram deliberadamente os protestantes que marchavam em homenagem ao segurança George Floyd, que foi assassinado no dia 25 de maio por um (des)umano de farda. Os ataques continham frases racistas, palavras de ódio e até em apoio ao “policial” que estava apenas “imobilizando a ameaça”. Parece até piada, mas não é.
O Facebook se posiciona de forma a não se responsabilizar pelo conteúdo gerado pelos usuários. É quase como se um chefe de cozinha atribuísse o mal cheiro de um prato estragado ao fornecedor da carne. A preocupação com a liberdade de expressão pela parte do Facebook é muito clara, o que é um ponto extremamente positivo, mas qual é a linha que separa liberdade de expressão dos discursos de ódio que inundam a rede em forma de comentários, vídeos, fotos e conteúdo compartilhado?
O movimento Stop Hate For Profit listou 10 mudanças imediatas que a plataforma precisa se comprometer a realizar, a fim de que as marcas retornem com a publicidade no canal. A lista de mudanças é:
1. Estabelecer uma infraestrutura de direitos civis, incluindo executivos de alto escalão capazes de avaliar produtos e políticas para discriminação, vieses e ódio;
2. Submissão a auditorias externas regulares sobre discursos de ódio e desinformação, com resultados publicamente acessíveis;
3. Oferecer auditoria e reembolso a anunciantes cujas marcas foram expostas ao lado de conteúdo que foi excluído por violar termos de serviço;
4. Encontrar e remover grupos públicos e privados que se baseiem em temas como supremacia branca, milícias, antissemitismo, conspirações violentas, negação do Holocausto, desinformação sobre vacinas e negação das mudanças climáticas;
5. Implementação de termos de serviço que ajudem a limitar e eliminar discursos radicais da rede social;
6. Não recomendar ou amplificar discursos ou conteúdos associados ao ódio, desinformação ou conspiração;
7. Criar mecanismos que marquem automaticamente conteúdo de ódio em grupos privados para avaliação humana;
8. Garantir a precisão de informações políticas eliminando a exceção para políticos, proibir desinformação sobre eleições e chamados de violência por políticos em qualquer formato;
9. Criar times de especialistas para analisar ódio baseado em identidade e assédio;
10. Possibilitar que indivíduos enfrentando ódio e assédio severos possam se conectar com um funcionário do Facebook.
Porém em reunião com o alto escalão do Facebook, realizada na última terça (7), os representantes do movimento consideram um fracasso ou decepção a falta de comprometimento formal da plataforma em aplicar qualquer uma das 10 mudanças listadas.
O Facebook aceitou contratar uma pessoa dedicada a cuidar de direitos civis, que ficaria responsável por moderar esse tipo de conteúdo, porém não garantiu que essa pessoa terá liberdade na tomada de decisões dentro da empresa.
A COO do Facebook, Sheryl Sandberg, assume que existem muitas mudanças a serem realizadas na plataforma no combate à disseminação dos discursos de ódio, mas garante que estão no caminho para que isso aconteça. A pergunta que fica no ar é: quanto tempo mais esse tipo de comportamento será tolerado e a plataforma continuará sendo palco para pessoas desequilibradas e racistas?
Já na página inicial do movimento é possível entender a gravidade da situação. Exclamam “O que você faria com 70 bilhões de dólares?” e afirmam que mesmo com todo esse lucro anual, o Facebook foi capaz de atribuir títulos de fonte confiável de notícias e checador de fatos às páginas claramente ligadas a movimentos nacionalistas brancos.
Enquanto nenhuma mudança estrutural é realizada, o que cabe aos usuários é a ajuda mútua na denúncia de perfis e comentários extremistas dentro da plataforma. Só assim podemos manter a plataforma um pouquinho mais saudável, até que uma mudança real aconteça.
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